Centro de Salud

Apareceram-me aqui uns altos na pele, um em cada um dos braços, e pelo seguro decidi ir ao médico. Nunca tinho ido, mas já sabia que as coisas aqui até funcionam bem.

A Ana deixou-me no Centro de Saúde que está perto e lá fui.
- O senhor trabalha aqui?
- Não. Estou a estudar.
- Então não tem direito ao serviço de saúde público. Se não paga Segurança Social aqui não serve... A solução é ir ao privado.

Meto a guitarra no saco e lá venho eu, com mais uma série de impropérios dedicados ao sistema espanhol e à dura vida de emigrante.
Telefono em lamúrio e diz-me para ir ao outro centro de saúde que também está perto de casa (e que mais tarde descobri que é o da nossa área de residência). Caminhada em Madrid pela manhã, a inalar os tubos de escape da Gran Via.

Centro de Saúde 2. Conto a minha história:
- Tem cartão europeu de saúde?
- Tenho sim. Está aqui.
- Só um segundo... Aqui está a consulta marcada. Pode ir para o consultório 15 que a médica já lhe chama.

Como o papel de uma única pessoa pode mudar todas as perspectivas sobre um país. Passei a adorar Espanha e o seu sistema de saúde, a boa-vontade que têm com os emigrantes e o facto de tudo ser tão eficiente que a médica me atendeu em menos de 15 minutos, preencheu tudo em computador e deu-me uma ficha no final.

Afinal era só um quisto sebáceo que não tem problema.

Paranoid Park

Isto de poder ver um filme depois do almoço em casa tem que se lhe diga... Infelizmente não o faço tantas vezes como devia e sem dúvida fico sempre com vontade de voltar a repetir.

Toda esta introdução para dizer que acabo de ver o "Paranoid Park" um filme de 2007 do Gus Van Sant e que estava aqui na lista de espera de visualização. Tenho-o aqui de uma colecção de algum jornal que a minha mãe religiosamente me compra.
No bom estilo do Gus Van Sant apanhamos aqui 82 minutos de stress do que é a sociedade americana com um acompanhamento musical fabuloso. Essa é aliás uma das características que gosto neste realizador.

Para além disso, é dos poucos realizadores que consegue ter planos de 5 minutos em que ninguém fala sem que ninguém seja capaz de desviar a atenção do écran. Tudo é natural, tudo é estupidamente real e tocante.

O melhor dos melhores: permitiu-me descobrir um cantor chamado Cast King, falecido em 2007 com 79 anos, e que lançou o seu único album em 2005. Uma voz do Alabama.

Unbelievable

Vejam este vídeo:


Sim, provavelmente acabou-se o problema de sustentabilidade da água potável no mundo. Estes senhores da Estação Espacial estão a brindar com o centro da NASA o facto de estarem a beber a sua própria urina reciclada.
Urina que foi testada através de análises e que é absolutamente saudável e potável e que, de acordo com os astronautas até "tem bom sabor".

"A missão de controle da NASA autorizou a equipa de astronautas da Expedição 19 a beber a água purificada pelo novo sistema de reciclagem da estação", afirma um comunicado da agência. A urina foi reciclada por uma máquina que custa 250 milhões de dólares, baptizada de "Water Recovery System" (Sistema de Recuperação da Água). A reciclagem da água era essencial para duplicar a capacidade de hospedagem da Estação Espacial, que chegará a seis ocupantes permanentes. A máquina permite reciclar 6,8 toneladas de água potável por ano.

Agora imaginem estas máquinas industrializadas, mais baratas, disponíveis e espalhadas por todo o mundo.

O Homem ainda nos consegue surpreender...

La Sombra

Mais uma exposição do Museu Thyssen com a Fundação Caja Madrid. Como são em conjunto é exposta em dois sítios, um aqui mesmo ao lado de casa e à borla, e outro no próprio Museu Thyssen, que como agora tenho uma colega do MBA a fazer lá as prácticas também é à borla. :-)

Eu fui na semana passada para aproveitar os últimos dias (acabou no dia 17 de Maio) e gostei muito. O melhor de tudo é o tema, ou seja, a exposição gira em torno do conceito da sombra na pintura, com uma parte também da importância da sombra na fotografia e no cinema.
E é neste conceito que está a inovação e o interesse desta exposição temporal. Em vez de pegar numa época ou num pintor em particular, vai atrás de uma característica das obras. Depois a partir daí constrói uma coerência incrível entre as obras ao mesmo tempo que explica visões, estilos e técnicas de gente tão diferente como Monet, Dali ou Goya.

Destaque das obras: o meu preferido Sorolla (e descobri outro da mesma escola muito bom, Santiago Rusiñol) e um pintor belga chamado Karel Willink, o dono da foto abaixo.

“Stadsgezicht” (1934)

In Treatment

Depois de Heroes (só vimos a primeira temporada mas muito, muito recomendável) e de Mad Men, chegou a vez de nos centrarmos numa nova série. Depois de uma tentativa falhada de fazer com que a pessoa que se senta ao meu lado no sofá gostasse de "The Office" (a versão americana, que está igualmente excelente) e depois de vermos um episódio de "True Blood" que também não gostou especialmente, a decisão foi "In Treatment", uma adaptação americana (e realizada pelo filho do Gabriel Garcia Marquez) de uma série israelita.

A ideia é muito simples: em cada episódio de 28 minutos vemos uma consulta de psicologia. O psicólogo é o Gabriel Byrne (que actorzaço) e de segunda a quinta vemos sempre os mesmos 4 pacientes e depois à sexta-feira é ele que vai à sua psicóloga.

Para quem gosta destes temas é uma maravilha e com 28 minutos por episódio ficas com aquela sensação de ter tornado a tua noite televisiva mais útil sem ter de ficar 90 minutos no sofá a ver um filme...

Leva lá a Bicicleta!

Sou o feliz proprietário de uma bicicleta Dahon desde Sábado!
Comprei uma Dahon Boardwalk para andar aqui em Madrid (e para a Ana me passar a acompanhar nas minhas saídas para correr). A Dahon é uma marca americana de bicicletas dobráveis, basicamente a empresa que iniciou toda esta moda deste tipo de bike e que continua a liderar o mercado.

Estou profundamente feliz!
Ter uma bicicleta nova aos 31 anos tem exactamente o mesmo efeito de quando tens 10 anos. Essa é a conclusão que posso tirar daqui...
É que para mim ter uma bicicleta sempre foi uma coisa fundamental. Muitas foram as tardes em que segui pela televisão o Giro de Italia, a Vuelta, o Tour e sobretudo a nossa Volta a Portugal. Muito vibrei com os nossos campeões e continuo hoje como antigamente a delirar com tudo o que é ciclismo. Lembro-me que depois de ver as etapas saía para a minha rua sozinho dando voltas intermináveis, imaginando contra-relógios, prémios de montanha e sprints finais.

Agora volto a ter esse prazer de sentir o vento na cara enquanto pedalo. Uma sensação de calma, liberdade, felicidade que não consigo descrever... Uma bicicleta é muito mais do que um meio de transporte para mim.

Por isso hoje estou muito feliz.

Exames DELE

Hoje, para além de ser o dia de San Isidro, santo padroeiro de Madrid e feriado aqui na Comunidade, foi dia de exame DELE. O DELE é o Diploma de Espanhol como Língua Estrangeira e eu decidi fazê-lo porque assim fico com um certificado do nível de espanhol, o que claramente fica melhor no CV do que dizer que "falo bem espanhol..."

Fiz o nível superior, que é equivalente ao Proficiency do inglês e a verdade é que não é muito complicado para quem já cá está hás uns meses e fala espanhol todos os dias. Foi curioso porque há medida que respondia às perguntas, sobretudo aquelas sobre expressões típicas, ia-me lembrando de conversas com a Ana ou com amigos. Deu-me um pouco aquela impressão do Slumdog Millionaire, ou seja, a sabedoria não vem só dos livros ou do estudo, vem sobretudo do que vês, do que ouves, da atenção que dás às coisas do dia-a-dia...

O melhor momento foi a tentativa copiona da minha colega do lado. O exame era feito numa sala de aula da International House. Típica sala apertadinha em que estamos todos mais ou menos juntos. E a meu lado sentou-se uma senhora que não devia estar muito segura do seu espanhol... Como o teste é de preenchimento de quadradinhos, era vê-la a dar ao pescoço para confirmar onde é que estavam os meus quadradinhos coloridos. Cada página que eu virava lá pegava ela no seu exame e confirmava uma a uma.
O cúmulo foi o momento em que me pergunta (?) a meio do exame o que era a expressão "huraño". A sala em silêncio, a monitora ali ao lado, e esta parvalhona pede-me uma resposta do exame! Claro que a monitora ouviu e veio ao pé de nós dizer que não se podia falar. Eu olhei para ela com olhitos de cão triste como que a dizer "a culpa não foi minha" e ela entendeu que eu estava a ser vítima de abuso intelectual... A partir daí, continuou avidamente a ver as minhas respostas mas pelo menos calou-se.

Muito pouco Smart

Estes meses aqui têm dado mais protagonismo ao Smart do que o desejado. Primeiro foi o roubo da matrícula, depois o susto que apanhei quando o rebocaram (e tive de pagar um dinheirão para o tirar do parque da polícia) e agora, ia a Ana muito bem a voltar do trabalho quando um polícia a manda parar, descobre que o carro é de um português que é residente em Madrid e manda vir o reboque. O que é que passou?
Que há uma lei que diz que se és estrangeiro residente tens 2 meses para regularizar o teu carro, ou seja, registá-lo em Espanha e mudar-lhe a matrícula com todos os custos inerentes, ou então os agentes da autoridade podem-te rebocar o carro quando muito bem lhes apetecer...
Resumindo, que voltei a pagar um dinheirão para tirar o carro do parque da polícia e agora o tenho aqui estacionado há espera de tratar de toda a papelada. Chuif.

Grandes filmes num minuto

Depois do fantástico filme "Rebobine se faz favor" em que os personagens principais se dedicavam a refazer grandes clássicos do cinema com recursos bastantes escassos, surgiu todo um culto por esta pequena arte. Pegas num filme e filmas a tua própria versão num formato muito curto e resumindo a história ao essencial.

Isto a propósito de ter descoberto uns filmes de 1 minuto feitos pelos alunos da Universidade de York que têm a particularidade de resumirem a história neste curto minuto e com apenas um único plano.

Genial o do Kill Bill (que ainda por cima resume as duas partes):




E fantástico também o do Forrest Gump: